Do Estúdio à Fajã — Retrato e Paisagem na Fotografia Madeirense

A proposta expositiva para a reabertura do Museu de Fotografia da Madeira — Atelier Vicente’s, focou-se em dois dos mais relevantes géneros fotográficos — o Retrato e a Paisagem. Logo após a sua invenção, em 1839, a fotografia viria a revolucionar a ancestral arte pictórica do retrato e definiria um novo léxico no registo estético e documental da paisagem. Assim, através das imagens de um conjunto vasto de fotógrafos, é possível traçar um panorama sobre a evolução destes dois géneros, desde a segunda metade do século XIX, até à década de 50 do século XX, no contexto da fotografia madeirense. O retrato fotográfico teve um enorme impacto social e económico na segunda metade do século XIX, estabelecendo um novo modelo de representação da burguesia ascendente, que se alargaria a outras classes sociais, associado a uma estética do parecer vinculada à nova sociedade industrial. O sucesso comercial dos ateliers fotográficos e a sua vasta profusão por todo o mundo, refletem o crescente impacto da técnica fotográfica no quotidiano e nas relações de sociabilidade. Por outro lado, a fotografia de paisagem será produzida na confluência da ciência e da filosofia oitocentistas, entre uma teologia da paisagem que exalta o seu estado inóspito e selvagem como origem do mundo e um olhar científico de mapeamento e de reconhecimento do território, que irá ser fundamental na criação do conceito de património natural, tão importante para a identidade futura da Ilha da Madeira. Nesta primeira apresentação dos acervos do Museu, quisemos também dar relevância à apresentação de positivos originais de época inéditos, nunca antes expostos, e que constituem uma parcela patrimonial de enorme relevância, no cômputo dos diversos acervos.

Exposição Permanente —
Retrato

Tipologias de Representação

A tipologia de retrato que o estúdio Vicente’s utilizou ao longo de décadas encontra muitos temas e aspetos similares noutros autores e estúdios fotográficos espalhados por todo o mundo. Cada um destes retratos constrói uma representação individual, mas acaba também por ser uma representação social. Um apurado trabalho de investigação deverá ser feito nesta matéria, mas numa primeira análise considerámos ser importante revelar um pouco da tipologia estética e técnica que estava na base do retrato fotográfico, sobretudo na segunda metade do século XIX e início do século XX. Apresentamos, assim, exemplos do retrato de crianças em que as poses e os adereços seguiam frequentemente o modelo clássico dos adultos, apesar de os dispositivos de entretenimento e fixação da sua atenção serem fundamentais e ficarem fora de campo da imagem final, como exemplificam 3 imagens aqui apresentadas; de poses femininas em que o leque era um adereço essencial e distintivo, ou das masculinas em que os adereços e a indumentária revelavam mais sobre a sua atividade laborai e, desse modo, sobre o seu lugar na estrutura económica. Os retratos familiares apresentam uma hierarquia rígida dos seus membros, que era disposta em esquemas quase sempre recorrentes, e que contrastam com as fotografias de grupos de amigos, menos formais, e nos quais a liberdade das poses tinha outra expressão. Na viragem do século, o aparato cenográfico do estúdio dará lugar à interpretação mais hollywoodesca e psicológica das poses, em que cada estúdio adota uma nova estética em que a expressividade é fundamental. [E.T.]

Sem Título — 27.05.1886 — Negativo de vidro em colódio humido

A Revelação do Instantâneo

Neste núcleo da exposição permanente, são revelados muitos autores cujas obras permanecem praticamente desconhecidas no panorama da fotografia portuguesa. Apresentamos uma seleção de retratos produzidos num contexto artístico e/ou amador, mas em que a qualidade estética se alia a uma novidade no modo de entender a representação das personalidades. O desenvolvimento técnico das emulsões e das máquinas fotográficas iria ser determinante para o surgimento de um novo género fotográfico, o instantâneo, tão associado ao advento da moderna imprensa ilustrada como à fotografia amadora, vernacular e intimista. Desta forma, revela-se a diversidade de registos deste novo universo do retrato, quer seja através do motivo pitoresco e dos temas populares, tão adequado ao interesse e à estética do naturalismo/realismo, quer seja na captura dos mais fugazes momentos, como o registo da intimidade, algo que irá contribuir para que a fotografia se afirme como a grande plataforma visual da modernidade. [E. T.

Fotógrafos apresentados  

Alberto Camacho Brandão (1884-1945); Alexander Lamont Henderson (1838-1907); Aloísio César Bettencourt (1838-1895); Augusto João Soares (1885-1970); Charles Courtney Shaw (1878-1971); Foto Figueiras (1930-1988); Francisco João Barreto (1877-1934); João Anacleto Rodrigues (1869-1948); João António Bianchi (Visconde Vale Paraíso) (1861-1928); João Francisco Camacho (1833-1898); Joaquim Augusto de Sousa (1853-1905); José Raphael Basto Machado (1900-1966); Perestrellos Photographos (1890-1998); Photographia Vicente (1863-1978); Thomas Russel Manners Gordon (1829-1906).

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Sem Título (Adelaide Cristina Camacho)
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Sem Título — (1873–1878)
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Adelaide Cristina Camacho — (1873–1878)

Exposição Permanente —
Paisagem

Panorâmicas — O Olhar Abrangente

A exploração dum registo bidimensional que conseguisse traduzir toda a abrangência do ângulo de visão humana tinha já sido ensaiada, através da pintura, com dispositivos sofisticados, como o Diorama (também da autoria do inventor do daguerreótipo, Jacques Louis Mandé Daguerre), que constituíam um famoso meio de entretenimento público, produzindo uma eficaz ilusão de imersão do espectador a 360 graus. Contudo, logo após o anúncio público da invenção do daguerreótipo e do calótipo em 1839, os desenvolvimentos óticos e mecânicos para aplicação destes processos à visão panorâmica foram imediatos. Durante a segunda metade do século XIX, estabeleceram-se quatro processos de obtenção de panoramas fotográficos: a imagem abrangente através de uma só lente e de um só disparo; os panoramas realizados com o recurso a várias imagens justapostas; os realizados com lentes móveis que permitiam já uma cobertura do ângulo de visão de 150° (a partir de 1845), e finalmente os panoramas panóticos, permitindo uma visão de 360° (a partir de 1890). É o caso das panorâmicas aqui apresentadas, realizadas com máquinas apropriadas para o efeito. Muitos estúdios fotográficos comercializaram também vistas panorâmicas, comprovando o sucesso que o processo continuava a ter junto do público. Vários fotógrafos e investigadores acumularam experiências e resultados, como Nõel Marie Lerebours, inventor do Megascópio, o primeiro dispositivo para panorama em daguerreótipo, ou Jules Damoizeau que, em 1890, desenvolveu o Ciclógrafo, o primeiro dispositivo circular com rotação mecânica e que se pode incluir na proto-história do cinema. [E.T.]

 

 

Sem Título (Adelaide Cristina Camacho) — (1873–1878) — Prova em albumina (carte de visite)

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Adelaide Cristina Camacho — (1873–1878)
Adelaide Cristina Camacho — (1873–1878)
Adelaide Cristina Camacho — (1873–1878)